"por falta das gotas que salvam...comecei a adoecer aos 2 anos"
Quando era mais novo, notei uma grande diferença entre mim e outras crianças da minha idade. O meu físico era o que me espantava mormente o meu pé esquerdo era (é) diferente do outro. Observava e perguntava dentro de mim, porque será? quando um camba me abusava outros ficavam solidários comigo. E outros miúdos mais a atrevidos do bairro, era só eu passar e eles gritavam “aleijado”...A nunca explicação que obtive é que comecei a adoecer aos 2 anos e assim fiquei assim. Confesso que nos primeiros dias, sentia-me muito mal, chorava e perdia a vontade de viver. Porque, logo eu?
Quando comecei a dar os meus pequenos passos de” namoradeiro”, minha mãe ficava preocupada, para ela o meu físico só tinha uma solução estudar e um dia formar-se e “ser um grande homem.” Por isso todas as minhas damas acabavam por me deixar. Eu furioso, discutia sempre com ela. (Pois muitos dos meus amigos eram os parentes delas (damas) que os obrigavam a separarem-se. Que diga o Néné quando namorava a Tété). Eu perdia sempre a discussão quando, me dizia “meu filho, tu és aleijado, os livros são a tua a salvação. Coisas pesadas não consegues, levar”.
Essas palavras penetravam na minha alma como uma bomba e explodiam automaticamente, não percebia porque…? Hoje ganhei maturidade e auto estima que me deixam sem receios nem complexos da minha deficiência, (lembro-me com nostalgia de uma discussão na faculdade com uma minha colega. Ela disse-me que me partiria a outra perna, os que ouviram quase que choravam no meu lugar enquanto eu me ria de alegria). Tenho acompanhado com muita tristeza a divulgação de inúmeros casos de poliomielite, as vezes imagens que sacodem a sensibilidade de qualquer ser humano. Não vou entrar no fundo da realização da campanha nem na qualidade da vacina. Mas sim, qual tem sido o acompanhamento das crianças detectadas? Recentemente falei numa palestra sobre a minha preocupação (os deficientes físicos) o que é feito as crianças que são detectadas? Disse-lhes “ que não é fácil viver com deficiência física ou como suavemente se diz “portador de deficiência”. (desculpem-me portador, deficiente… Pra mim não faz diferença.). Contei-lhes, as razões de como falo com normalidade do meu estado. A plateia comoveu-se com as minhas palavras e a tarde fui convidado para uma entrevista na rádio Benguela. A grande jornalista ficou estupefacta com a frontalidade e seriedade dos meus argumentos.Quando sai daquele local, recebi uma onda de felicitações e encorajamentos de parentes, amigos…
Vejo diariamente o abandono que passam os portadores de deficiência, alguns são kupapatas, mendigos… Se alguém já tem problemas físicos, ainda faz táxi? A rua é o seu lar? Não seria bom explorar os seus aspectos intelectuais? Primeiramente, criar auto valorização dizer “ eu consigo”. Formar-se e dar o seu maior licitamente para o meu país.
Quando anunciam um caso, fico preocupado (se os que estão fisicamente bons enfrentam dificuldades, quanto mais nós?), é preciso que esta orientação deve “começar agora”. Quantos de nós somos úteis? Ganhei confiança em mim com a seguinte frase”a minha inteligência é a maior que a minha deficiência”. Faço tudo no limite da minha capacidade intelectual hoje exerço actividades que não “danificam”o meu corpo. Estar nesta condição é duro, as pessoas olham-nos sempre com piedade e muitas vezes sem importância (pensam que os meus “companheiros”, só servem para mendigos).
A poliomielite das mentes é um facto, pois existindo várias fases de campanha, os resultados são bons? Continuamos a desprezar os presentes. Se todos estamos de acordo que” os homens não são perfeitos” então podemos concluir que “somos todos deficientes só que nós os mais visíveis”. As nossas mentes têm poliomielite pois não se entendem muitas situações? Que vão acontecendo todos os dias…
D.S.Chipilica Eduardo, 4º Ano, Curso de Direito
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