REGRESSO
Quando eu voltar,
que se alongue sobre o mar
o meu canto ao criador
que me deu vida e amor
para voltar!...
Voltar!
Ver de novo o balouçar
Da fronte majestosa das palmeiras
Que as horas derradeiras do dia
Circundam de magia.
Regressar !
Poder de novo respirar -
ó minha terra -
aquele odor escaldante
que o húmus vivificante
do teu solo encerra.
Embriagar uma vez mais o olhar,
numa alegria selvagem,
no tom gritante da tua paisagem
que o sol a dardejar calor
transforma num inferno de cor.
Não mais o pregão das varinas
nem o monótono, igual, do casario plano.
Hei-de ver outra vez as casuarinas
a debruar o oceano.
Não mais o agitar fremente
duma cidade em convulsão.
Não mais esta visão
nem o crepitar mordente deste ruído.
nem o crepitar mordente deste ruído.
Os meus sentidos anseiam pela paz
das noites tropicais
em que o ar parece mudo
e o silêncio envolve tudo.
Tenho sede !
Sede dos crepúsculos africanos
Todos os dias iguais
de tons quase irreais.
Tenho saudades !
Saudades do horizonte sem barreiras,
das calemas traiçoeiras,
das cheias alucinadas !
Saudades das batucadas
que eu nunca via
mas pressentia em cada hora
soando pela noite fora !
soando pela noite fora !
Sim, eu hei-de voltar.
Tenho de voltar !
Não há nada que mo impeça.
Com que prazer hei-de esquecer
Com que prazer hei-de esquecer
toda esta luta insana,
que em frente está terra angolana
a prometer o mundo a quem regressa.
Oh ! Quando eu voltar,
hão-de as acácias
rubras, a sangrar,
florir só para mim.
E o sol esplendoroso e quente,
o sol ardente,
há-de gritar,
na apoteose do poente,
o meu prazer sem lei,
a minha alegria enorme
de pode enfim dizer:
VOLTEI !
ALDA LARA
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