A LITERATURA COMO INSTRUMENTO DE AFIRMAÇÃO DOS JOVENS ANGOLANOS
Martinho Bangula[1]
“À figura do dever, seja ele de essência teológica ou resultante do culto laico da abnegação, a nossa época opõe uma cultura hedonista-utilitarista do «cada um por si». Devemos lamenta-lo?
Seguramente que não. O nosso mundo, onde o individuo não parece ter outro horizonte que ele próprio, tem menos necessidade de cruzadas virtuosas que uma ética da responsabilidade. Mais modesta, esta privilegia lógicas dialogadas e não contraditarias, pragmáticas e não encantatórias. Em resumo um compromisso sábio entre o possível e o ideal”
Gilles Lipovetsky – Filosofo e sociólogo.
Não há dúvidas que vivemos numa sociedade em busca de valores. Neste sentido, o pensamento de Gilles autor de Le crépuscule du devoir e de L´Empire de l´éphémère, ilustra bem este cenário. Um cenário de perda e desestruturação funcional quase generalizada.
A sociedade em que vivemos há muito deixou de seguir os ditames da agregação humana e se propõe a cada dia criar novos cânones para a humanidade, fazendo do passado arqui-inimigo do progresso. Aqui começa a minha reflexão sobre o assunto: os jovens e a literatura. Certamente o que mais interessa, aos presentes neste encontro, é saber se a juventude lê ou não e porque? Eu colocaria a questão noutros termos:
1. Quem são os jovens de hoje?
2. O que a literatura
3. Qual é o sua posição no contexto das sua congéneres?
4. O que faz a sociedade pelo jovens?
Estas são, na minha opinião, as premissas para compreendermos o fenómeno: juventude e o interesse pela literatura.
Assim, muito brevemente me discorro sobre estas quatro premissas:
- Quem são os jovens de hoje? Como estudante de sociologia afirmo: são um grupo etário que compreende a faixa dos 18 aos 35/35 anos. São sujeitos, na sua maioria, sem empregos, acesso à formação de qualidade, provêem de lares desagregados e são vítimas da rotulagem e estereótipos sociais, etc.
- O que a literatura? No sentido em que abordamos aqui, ela é uma forma de expressão artística, que consiste na manifestação de sentimentos, atitudes, narração ou descrição de acontecimentos.
- Qual é a sua posição no contexto das suas congéneres? A literatura, diferente de outras manifestações artísticas, desde os seus primórdios que constitui apanágio de poucos. A música, a dança, o teatro a outras mais artes, sempre tiveram mais paralisantes e consumidores que a literatura, devido ao carácter erudito que as sociedades teimam em lhe emprestar. Para se fazer literatura é preciso em primeira instância saber escrever e possuir certa imaginação. Mas para consumir basta saber ler. Não é necessário ter imaginação ou ser erudito para se ler, pelo contrário, a leitura é que torna o indivíduo criativo e erudito. Portanto é um erro da humanidade ter “elitizado” esta arte. Diante deste quadro devemos considerar os entraves seguintes: O preconceito histórico e a desestruturação da escola e outras instituições de socialização.
No primeiro caso o que sucede é que os indivíduos não se sentem impelidos a ler porque sabem que não é apanágio de todos e a sociedade não os motivas porque consentiu somente alguns podem. Isto é errado. Pois o escritor peruano Mário Vargas já afirmara que “ a literatura, por sua vez, foi e, enquanto existir, continuará sendo um denominador comum da experiência humana”.
[1] Martinho Bangula estuda sociologia na Universidade Jean Piaget, ensina generalidades na escola pública desde 2003. Exerce jornalismo radiofónico e mantém um blog sobre academia, ciência e cultura na internet. É comentarista sobre T.I e Cultura contemporânea. É secretário provincial da B.J.L.A. Como escritor publicou em 2008 “Sexorcismo – poesia para purificação”.
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