A transmissão e produção do conhecimento científico, tal como o concebemos actualmente é feita pela forma escrita. Que implicações é que resultam deste factor?
Significa que um domínio perfeito da linguagem escrita é condição para o exercício pleno de todas as áreas do conhecimento.Da mesma forma que todas as estruturas organizacionais de uma sociedade se fundam na linguagem escrita, o exercício pleno da cidadania, implica que sejamos “bons leitores”, interpretantes do mundo que nos rodeia. Todo o nosso quotidiano assenta numa permanente “produção” e “interpretação” de mensagens, de códigos escritos.
Daí o papel de relevo e extrema responsabilidade que as instituições de ensino (nos seus mais variados níveis) enquanto veículo de educação formal, desempenham na formação de “leitores”, de “interpretantes” competentes.
Não concebemos a formação de futuros juristas que não tenham o domínio da língua escrita. Como irão interpretar as leis que regem a nossa sociedade? Como poderão defender a justiça, a lei, se forem incapazes de produzir / interpretar textos fiéis, claros e objectivos?Será possível concebermos engenheiros que não são capazes de ler e interpretar correctamente textos técnicos, interpretar esquemas, ler gráficos?
Ou ainda, será concebível aceitarmos documentos produzidos por sociólogos ou qualquer outro profissional com formação académica superior, cheio de erros ortográficos ou de estruturas frásicas incompreensíveis? A resposta parece-nos óbvia…
Estamos no bom caminho. É inegável como, de ano para ano aumenta o número de licenciados. É visível o esforço e a procura crescente da formação universitária por parte de todos os que, durante anos e anos, não tiveram oportunidade de concluir a sua formação.
Queremos ver obras publicadas, investigação, conhecimento científico produzido por angolanos para angolanos e para qualquer outro cidadão do mundo (porque o conhecimento válido é necessariamente universal). É preciso percebermos, termos consciência que, para tal, a condição primeira será o perfeito domínio do código linguístico no qual veiculamos esse mesmo conhecimento.
Numa altura em que Angola assume a presidência da CPLP, parece-nos ser a hora certa de, juntos, reflectirmos, analisarmos o estado do ensino do português enquanto língua oficial de comunicação, para assim, definirmos novas estratégias que conduzam ao crescente cimentar do domínio exímio do português. Para tal, fará todo o sentido, que os docentes de português entrem em contacto com as línguas nacionais, na medida em que existem, necessariamente, interferências em ambos os sentidos. Compreender a estrutura das línguas nacionais poderá fornecer uma visão comparativa que auxilie a intervenção dos docentes junto dos alunos cuja língua materna não é o português. Neste caso, a aprendizagem da língua oficial apresentará, necessariamente dificuldades próprias de quem aprende uma segunda língua.
Que sirvam estas reflexões para o acordar de consciências de todos os intervenientes e actores responsáveis pelos caminhos da educação …
Por:
Marivalda Da Cruz Gonçalves
Docente da Universidade Jean Piaget, Pólo de Benguela
Docente da Universidade Jean Piaget, Pólo de Benguela
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