segunda-feira, 5 de março de 2012

Mensagem aos Docentes pelo Vice-reitor Prof. Bonifácio Tchimboto

Hoje, dia de abertura oficial do ano lectivo 2012,  o professor Dr. Bonifácio Tchimboto, vice-reitor da Unipiaget de Benguela, dirigiu-se aos docentes funcionários durante a sessão que congregou todos os membros da Direcção, Eng. Mário Rui Ferreira - Administrador, Dr. Pedro Amândio - Director Pedagógico, funcionários e docentes da instituição.

Publicamos aqui na íntegra a sua mensagem de abertura proferida aos presentes.


Aos docentes!

Estamos a começar o oitavo ano da nossa existência!
Sabemos, no entanto, que para a vida das instituições (de certo modo como a das pessoas) o que conta, realmente, não é a extensão dos anos, mas a intensidade de vida, a qualidade de vida. A imponência do seu edifício, erguido sob o olhar meigo da Senhora da Graça, admira os passantes, orgulha os utentes, enobrece os fautores. Mas não é a imponência do edifício, nem o frescor dos interiores, nem o formigar dos estudantes (cerca de 5000!). O metro para aquilatar o valor de uma universidade não está apenas no visível. O valor de uma comunidade académica será medido, antes de mais, pela moldagem interior que a formação vai, paciente e resolutamente, produzindo no estudante, em ordem à criação de um verdadeiro homem de letras e de ciências. Se um dia o país e o mundo serão gratos ao trabalho da Unipiaget de Benguela, sê-lo-ão pela dedicação pedagógica e científica do seu corpo docente. E, nisto, os frutos afiguram-se promissores e sem medidas.

1.      A qualidade do ensino universitário depende, certo, da qualidade dos docentes. Nós os docentes conhecemos a nobreza e a responsabilidade da nossa missão. Devemos conhecer e viver também a humildade e honestidade científica de reconhecer quanto precisamos de ler, estudar e pesquisar. Só uma bagagem vasta e continuamente renovada nos dotará de condições para abordar com desassombro os conteúdos lectivos a nós acometidos. A universidade é uma forma de vida colectiva e social, onde convivem e cruzam interesses mais ou menos diferenciados. Há, no entanto, um interesse comum: buscar e servir a ciência. E somos todos responsáveis para que este e outros nobres objectivos sejam atingidos. Por outro lado, o nosso encontro com os estudantes debaixo dos tectos da Piaget deve criar também relações humanas e humanizantes. O humano precede o académico!
2.      A nossa comunidade académica – uma comunidade que (segundo a história dos seus fundadores) teve gestação em valores humanistas e cristãos – vai além dos interesses pessoais e egoísticos. Sabemos nós que o horizonte verdadeiramente humano não se vislumbra senão com os olhos de altruísmo e filantropia. Para muitos de nós (para todos nós) servir o irmão, formá-lo científica e humanamente deverá ser o primeiro e o mais importante estipêndio a receber. Na verdade, o serviço de formar, nas suas vertentes mais genuínas, nunca será recompensado com valores pecuniários do módulo lectivo. De resto, se os ramos humildes da videira piagetina que somos nós produzirem algum fruto, se dos nossos rebentos mais tenros brotarem uvas sábias, destinadas a saciar a sede das gentes, como não seremos gratos, e infinitamente gratos?! Colegas meus, a nossa missão não é nada ingrata, só os calendários do frutificar é que podem andar atrasados. Seremos recompensados infinitamente, mesmo quando já não estivermos neste mundo.

3.      Deveremos passar a nossos estudantes o património científico de que somos portadores. Mas façamo-lo com modéstia e generosidade. Assim, ensinaremos nossos discentes, não só com palavras, mas sobretudo com atitudes. Dizei aos discentes que zelem pelas instalações que nos abrigam, dizei-lhes que nós, mais do que filhos do nosso passado, somos também pais do nosso futuro comum. A dedicação dos professores, os sacrifícios dos pais e encarregados de educação – assim esperamos - serão recompensados com atitudes de gratidão e com resultado académicos apreciáveis.

4.      No mundo assolado pela instabilidade de ideias e opiniões, num país em que – assim pensam alguns – a ciência para vincar tem de fazer vénias a poderes políticos e aos impérios económicos, num país em que académicos se compram e se vendem por feixes de notas sujas… o professor piagetino é chamado a lutar contra a corrente de modo a libertar a ciência do exílio de corrupção e de mercantilismos ignóbeis, cheirem esses a dinheiro ou a partidos políticos, a nepotismos ou a religião. Para isso, o docente precisa primeiro de libertar a si mesmo (nemo dat quod non habet, neque plus quam habet). Precisa de estar isento. Isenção e equidistância, isenção e equidistância… libertemo-nos de aliciamentos partidários, libertemo-nos de proselitismos religiosos, libertemo-nos dos encantamentos afromísticos. Um docente da nossa estatura não cabe na algibeira de nenhuma instituição social ou ideológica.

5.      Hoje temos muito vandalismo na cidade, na universidade também. Estudantes nossos há que passam pelas salas e pelos corredores da Universidade como se de casa emprestada se tratasse, poluem a acústica com gargalhadas e gritos estapafúrdios… Mas o que mais deve preocupar o bom senso são aqueles que da universidade exigem tudo, menos o que devem efectivamente exigir: a ciência. Há quem pensa estar a pagar propinas não para ter aulas em vista de conhecimentos, mas para ter nota e canudo de doutor. São poucos, felizmente! Mas existem e merecem, da nossa parte, não repúdio ou desprezo. São filhos doentes da nossa família, devem ser levados à clínica… se todos nós que, quais camponês calejados, nos esforçarmos para salvar o ramo infrutífero da vinha, ganharemos mais uvas para o lagar da casa. Quer dizer, precisamos de criar nos estudantes uma mentalidade autenticamente universitária, rejeitando decisivamente desordens e fraudes académicas.

6.      A instrução, a escola e a formação são importantíssimas. Fechem as escolas. Vereis as cadeias apinhadas de jovens e a própria polícia precisará de ser policiada! A escola, depois da família e da Igreja, é o lugar mais importante de socialização e de construção do homem e do humano. A escola é uma legítima extensão da família. E casos há em que a escola não prolonga a família, mas substitui-a naquilo em que esta é omissa. Por isso, os estudantes mais irrequietos devem ser tratados com indulgência e compreensão pelos colegas e pelos professores. Quem sabe se não seremos nós a única família formativa que eles têm?

Excelentíssimos colegas, senhoras e senhoras, em nome do Magnífico Reitor, Prof. Doutor Pedro Domingos Peterson, DECLARO ABERTO O ANO ACADÉMICO 2012!
Que Deus abençoe os nossos propósitos!

Benguela, 5 de Março de 2012
Pe. Tchimboto, PhD








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