quarta-feira, 13 de maio de 2009

Unipiaget de Benguela, cinco anos de vida!

Cinco anos não perfazem tão longo tempo. Mas a vida das instituições é, de certo modo, como a das pessoas: o que conta, realmente, não é a extensão dos anos, mas a intensidade de vida, a qualidade de vida. Temos mil motivos para felicitar a Unipiaget de Benguela. A imponência do seu edifício, erguido sob o olhar meigo da Senhora da Graça, admira os passantes, orgulha os utentes, enobrece os fautores. Mas não é a imponência do edifício, nem o frescor dos interiores, nem o formigar dos estudantes. O metro para aquilatar o valor de uma universidade não está apenas no visível. O valor de uma comunidade académica será medido, antes de mais, pela moldagem interior que a formação vai paciente e resolutamente produzindo no estudante, em ordem à criação de um verdadeiro homem de letras e de ciências. Se um dia o país e o mundo serão gratos ao trabalho da Unipiaget de Benguela, será pela responsabilidade científica e técnica dos seus formados. E, nisto, os frutos afiguram-se promissores e sem medida.

1. Aos Fundadores

Sinto-me no dever grato de recordar nomes a que a Unipiaget de Benguela será sempre devedora de gratidão.

· Trata-se do Presidente e Fundador do Instituto Piaget internacional, o Professor António Oliveira Cruz, que, depois de Luanda, quis estender a Benguela, tendo ele vindo pessoalmente até junto das autoridades locais, acompanhado por José Manuel da Rocha e Pedro Domingos Peterson, administrador geral e reitor da universidade em Luanda, espectivamente;

· Recordamos com gratidão o nome da Dra. Maria José Lopes Ferreira, aquela que dessa casa conheceu as dores de parto, aquela que a viu nascer. Foi esta jovem mulher que, contra todos os preconceitos, tirou Piaget do berço e lhe ensaiou, mão na mão, os primeiros passos;

· Devo recordar os meus colegas do 1º Conselho Científico fundador: Prof. Doutor Pe. Paulino Lukamba e Dr. David Bóio. Nós os três, qual pilares duma obra que veio para perdurar, provámos que era possível criar quase ex nihilo uma casa de ciência, na dimensão e ambição da Piaget, ou seja, administrar a ciência e a tecnologia sob signo ética e do humanismo, como o quis o fundador.

· Devo recordar, é certo, todos os nossos professores que, desde a primeira hora se dão a esta nobre obra e, com eles, os primeiros funcionários dos serviços, dos jardins, bem como os todos estudantes do nosso histórico ano zero...

2. Aos Docentes

A qualidade do ensino universitário depende, certo, da qualidade dos docentes. Nós os docentes conhecemos a nobreza e a responsabilidade da nossa missão. Devemos conhecer e viver também a humildade e honestidade científica de reconhecer quanto precisamos de ler, estudar e pesquisar. Só uma bagagem vasta e continuamente renovada nos proverá condições para abordar com desassombro os conteúdos lectivos a nós acometidos. A universidade é uma forma de vida colectiva e social, onde convivem e cruzam interesses mais ou menos aparentados. Há certamente um interesse comum: buscar e servir a ciência. E somos todos responsáveis para que estes objectivos sejam atingidos. Mas o nosso encontro com os estudantes debaixo dos tectos da Piaget deve criar também relações humanas e humanizantes. A nossa comunidade humana – uma comunidade que (segundo a história dos seus fundadores) teve gestação em valores humanistas – vai além dos interesses pessoais e egoísticos. Sabemos nós que o horizonte verdadeiramente humano não se vislumbra senão com os olhos de altruísmo e filantropia. Para muitos de nós (para todos nós) servir o irmão, formá-lo científica e humanamente deverá ser o primeiro e o mais importante estipêndio a receber. Na verdade, o serviço de formar, nas suas vertentes mais genuínas, nunca será recompensado com valores pecuniários do módulo lectivo. De resto, se os ramos humildes da videira piagetina que somos nós produzirem algum fruto, se dos nossos rebentos mais tenros brotar uvas sábias, destinadas a saciar a sede das gentes, como não seremos gratos, e infinitamente gratos?! Colegas meus, a nossa missão não é nada ingrata, só os calendários é que estão atrasados. Seremos recompensados infinitamente, mesmo quando já não estivermos neste mundo.

3. Aos Estudantes

Deveis zelar pelo património que juntos estais a construir e que deverá ser herança dos vindouros. A dedicação dos vossos professores deve ser recompensada com atitudes de respeito e gratidão. Assim, a vossa aplicação de estudantes deverá ser retribuída com empenhamento generoso dos docentes. O respeito pelos colegas, o pedido de perdão ao homem da segurança por ter passado por ele sem o cumprimentar, o antecipar-se a apanhar a caneta do colega que cai, o evitar má-língua, fofocas e descortesia… aqui estão os elementos do BI de uma comunidade académica civilizada.

Hoje temos muito vandalismo na cidade, na universidade também. Colegas vossos há que passam pelas salas e pelos corredores da Universidade como se de casa emprestada se tratasse, poluem a acústica com gargalhadas e gritos estapafúrdios… Mas o que mais deve preocupar o bom senso são aqueles que da universidade exigem tudo, menos o que devem efectivamente exigir: a ciência. Há quem pensa estar a pagar propinas não para ter aulas em vista de conhecimentos, mas para ter nota e canudo de doutor. São poucos felizmente! Mas existem e merecem, da nossa parte, não repúdio ou desprezo. São irmãos doentes da nossa família, devem ser levados à clínica… se todos vós que sois bons empregardes esforços para salvar o ramo infrutífero que é o colega, ganharemos mais uvas para o lagar da casa. Quer dizer, precisamos de criar mentalidade universitária, rejeitando decisivamente o mercantilismo.

A instrução, a escola e a formação em geral são importantíssimas. Fechem as escolas. Vereis as cadeias engarrafadas e o policiamento precisará de ter policiamento! A escola, depois da família e da Igreja, é lugar mais importante de socialização e de construção do homem e do humano. A escola é uma legítima extensão da família. E casos há em que a escola não prolonga a família, mas substitui-a naquilo que esta é omissa. Por isso, os estudantes mais irrequietos devem ser tratados com indulgência e compreensão pelos colegas e pelos professores. Quem sabe se não seremos nós a única família formativa que ele tem?

Aniversário…São cinco anos de vida. Um passado curto, mas rico. Montanhas de futuros por galgar. Piagetinos, o futuro não se herda, cria-se. Criar é tirar do nada, é sonhar cruzar horizontes nunca andados. Se, em cinco anos, das poeiras do Bairro da Graça o génio de Oliveira Cruz fez nascer uma obra tão imponente, o que será de nós nos próximos dez anos?! Mas é Deus que dispõe. O homem apenas propõe. Sejamos dóceis a suas inspirações e que Ele nos abençoe!

Benguela, 10 de Maio de 2009

Pe. Tchimboto, PhD

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