Trindade e Tobago - A V Cimeira das Américas concluiu neste domingo (19.0409 sob o signo da esperança de uma nova era nas relações dos países do continente com os Estados Unidos, embora o embargo de Washington a Cuba tenha impedido o anúncio de uma declaração final unânime.
"A declaração em si não tem a completa aprovação dos 34 países presentes. Alguns deles manifestaram suas reservas. Mas concordamos em adoptar este documento, já que ao adoptá-lo, reconhecemos que não há unanimidade e sim um grande consenso sobre estas questões importantes", declarou o primeiro-ministro de Trindad e Tobago, Patrick Manning, no encerramento da reunião continental.
Depois de dois dias de reuniões, os 34 líderes das Américas se mostraram convencidos de que o passado ficou para trás e que se pode inaugurar uma nova página em suas relações com um intercâmbio franco e directo.
"Mostramos que, apesar de termos nossas diferenças, podemos e devemos trabalhar juntos em questões nas quais tenhamos interesses em comum. Mostramos que não há nem grandes nem pequenos sócios na América, somos apenas companheiros, comprometidos em avançar numa agenda comum com desafios comuns", declarou o presidente Barack Obama.
A cimeira foi o primeiro encontro do presidente Obama com os homólogos latino-americanos e caribenhos e ele parece ter passado por essa primeira grande prova de fogo ante muitos líderes severos críticos das políticas americanas.
"A cimeira, sem ser perfeita, se aproximou da perfeição. Reinou nela a cordialidade e ela terminou com êxito e com um clima novo", declarou o presidente venezuelano Hugo Chávez, cujo encontro afectuoso com Obama roubou grande parte das atenções do evento.
O primeiro passo para o que pode ser o restabelecimento das relações entre Estados Unidos e Venezuela será a nomeação de novos embaixadores em Caracas e Washington, depois das expulsões decretadas em Setembro.
O presidente do Equador, Rafael Correa, outro grande crítico da política dos Estados Unidos, também assinalou que a cimeira representou uma nova era de diálogo aberto, franco e amigável.
A Correa, que fez questão de se fotografar ao lado de Obama, disse ainda que seu homologo americano mostrou uma atitude nova em relação ao continente.
Obama se reuniu separadamente em Trindade e Tobago com os líderes sul-americanos, centro-americanos e caribenhos. A todos garantiu a disposição de ter um diálogo directo baseado no respeito mútuo.
Além da segurança energética e da prosperidade, temas incluídos na agenda do encontro, as questões que realmente centraram o evento foram Cuba e a crise económica.
Obama chegou a Port of Spain com o discurso de que está disposto ter um novo começo com Cuba e admitiu neste domingo que meio século de políticas americanas sobre Cuba "não funcionaram", mas destacou que a política americana em relação à
Havana não mudará da noite para o dia.
"Temas como os dos prisioneiros políticos, liberdade de expressão e democracia são importantes, e não podem ser deixados de lado", explicou o presidente americano, dando a entender que espera acções de Havana neste sentido.
Também declarou que Cuba e Venezuela, assim como os Estados Unidos, devem mostrar "não simples palavras, mas também factos" se desejam melhorar as relações.
Para a maioria dos participantes, o encontro continental pode marcar mesmo o início de uma nova era, depois de anos de falta de comunicação ou relações ruins com os Estados Unidos.
"Nunca havíamos assistido a uma cimeira com um nível de interacção, franqueza e cordialidade que se sentiu em Trindad e Tobago. Creio que estão estabelecidas as bases para relançar uma nova etapa nas relações hemisféricas", declarou o presidente mexicano Felipe Calderón.
Entre os argumentos para a não aprovação unânime do documento final estão a questão do embargo a Cuba, a escassa presença no
documento da crise económica mundial e até mesmo discussões sobre quais países são democráticos e quais não são.
Países como Bolívia e Venezuela, integrantes da Alternativa Bolivariana das Américas (Alba), já haviam anunciado que não
assinariam a declaração final, entre outros motivos por solidariedade a Cuba, que não é mencionada no texto, está excluída da Organização dos Estados Americanos (OEA) e submetida a um embargo americano desde 1962.
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, justificou a decisão de não assinar a declaração final por causa de diferenças irreconciliáveis, mas destacou a nova atitude do presidente Barack Obama, afirmando que seu homólogo americano é "o chefe de um império encurralado por suas regras".
Por fim, o presidente Luiz Inacio Lula da Silva enfatizou que a Quinta Cimeira das Américas abriu uma nova dinâmica nas relações entre os países do continente e pediu a seus pares que aprendam a se respeitar mais e deixem de pedir favores.
"Devemos ter respeito por nós mesmos para que nos respeitem”.
Não temos que continuar pedindo favores. Vamos deixar essa ideia de que somos pequenos e pobres e que alguém tem que nos ajudar. Nós, e não os Estados Unidos, temos que resolver nossos problemas", declarou Lula à imprensa ao fim do encontro.
Segundo Lula, o clima da reunião faz pensar que é plenamente possível que haja uma evolução na relação entre os Estados Unidos e a América Latina. "É possível criar uma nova dinâmica, de companheirismo, de contribuição", concluiu.
As imagens de Chávez e Obama apertando as mãos sorridentes correram o mundo e deram o tom desta cimeira marcada pela vontade de aproximação, exemplificada também pelas palavras do presidente venezuelano para seu homologo americano: "'I want to be your friend'. A Venezuela quer ser amiga dos Estados Unidos".
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