Crónica publicada no semanário Sol. Escrita antes do discurso que Obama proferiu em Berlim, mas também sem que este justifique especiais comentários adicionais:
Barack Obama será o próximo presidente dos EUA. No seu périplo pelo Médio Oriente e pela Europa comportou-se como tal e assim foi recebido pelos diferentes protagonistas. Tomem-se, portanto, os seus actos e declarações pelo que valem.
Obama foi a Bagdade explicar que retira o grosso das tropas até 2010. Nisso, não pode tergiversar, sob pena de colocar a eleição em risco. Em compensação, exibiu o lado cowboy no Afeganistão e em Israel. Este equilíbrio é o seu cartão de visita. Por agora, cola. A coisa só mudará quando os norte-americanos perceberem que os rapazes, afinal, não voltam para casa e que no Afeganistão não se ganham guerras. Mas essa é uma conversa para 2009.
Entretanto, a nova linha implica a Europa. Obama não é ingénuo. Em troca do desinvestimento no Iraque, o futuro inquilino da Casa Branca exige a repartição dos custos humanos e materiais no Afeganistão.
Resta saber como se comportará noutro dossier explosivo: a “Guerra das Estrelas”, programa que teve esta semana o seu primeiro efeito boomerang, com Chavez a oferecer a Venezuela a Putin, para bases de bombardeiros russos de longo alcance…
A segunda e terceiras facturas da retirada do Iraque têm como destinatários o Irão e a Palestina. Foi em Sderot, a poucas dezenas de quilómetros das instalações militares nucleares de Israel no deserto do Neguev, que Obama disparou contra o programa iraniano e apoiou Telavive contra o Hamas.
Extraordinário! Israel, ao contrário de Teerão, não subscreveu o Tratado de Não Proliferação; o seu programa escapa a qualquer fiscalização internacional, o que não sucede com o dos mollahs; e, pior, Obama sabe que é em Telavive, e não em Teerão, que os dirigentes ponderam um ataque preventivo, nuclear ou convencional, “no período de 5 de Novembro de 2008 a 19 de Janeiro de 2009”, a darmos por boa a especulação de Benny Morris, um influente historiador sionista, que reflecte abertamente sobre cenários militares que, de resto, são públicos.
Porque fez, então, declarações tão deslocadas no tempo e no lugar? Para compensar o tenha dito, em privado, aos líderes hebraicos, sobre os seus planos de guerra? É pouco provável. A minha tese é que Obama selou, com o lobby sionista, uma aliança de ferro.
Aliás, as declarações do candidato sobre o conflito israel-palestiniano confirmam as piores expectativas. Fazem de Bush uma pomba de saída. É verdade que Obama corrigiu-sem-corrigir o que havia dito sobre Jerusalém. Mas foi taxativo na rejeição do diálogo com o Hamas, mesmo que Israel esteja a negociar com este movimento, por interposto Egipto, a libertação de centenas de prisioneiros pela devolução do soldado Shalit.
O que este périplo mostrou é que Obama já é refém da cadeira onde se vai sentar. O mundo da obomania tinha direito a um pouco mais, não?…
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