quinta-feira, 9 de abril de 2009

Espaço Poesia: O Poema que Morreu

Um assassinato. Tudo indicava assim. E o coitado do poema, estirado, era coceira na curiosidade pública. Chegou o delegado - e cismado - foi tecendo em pensamento as inconstantes formas da dúvida. Uma interrogação passeava ali. Crescia e engordava - proporcional - a cada pessoa que parava na pele da já recém formada multidão. Não demorou muito e apareceu o legista. Ele era meio esquisito, tinha tique nervoso e coceira na vista. Examinou o já lido poema e constatou o consumado fato: - Morrera de amor, não de infarto. Suicídio? Assassinato? Quem faria o fatídico ato? - Quem ??? perguntava o delegado. E com um ar sherloquiano pegou o morto nas mãos. Sob os olhos atentos da multidão exclamou a primeira descoberta: - Não era amador o assassino, era poeta ! “Poeta ?” Indagou a multidão incrédula. - Poeta! Confirmou alisando o imeeeenso bigode. Chegaram então os repórteres, a lavadeira, o bêbado ainda de porre, a dona Julieta, o doutor Onofre, e todos, do sul ao norte, mastigavam a mesma pergunta: “Um poeta, mas como é que pode ?” - Simples! - Explicou o delegado... A tristeza, num homem apaixonado, dói além do sustentável. No peito, abre um buraco. Tanto insiste que não resta escapatória, com o dedo em riste, atrás da porta, persiste o crime. A arma utilizada não foi revólver, não foi faca. Foi um sentimento amargurado delineado no papel por uma caneta esferográfica. Já a paixão - continua -, foi a vítima, de vez esquecida, varrida, morta.
___________________________________________________________
Conheça o autor:
Ricardo França de Gusmão, é poeta e jornalista. Especialista em Telejornalismo pela Universidade Estácio de Sá. Detentor de diversos prêmios literários. Como jornalista foi Repórter Especial do O DIA, onde conquistou o Prêmio Internacional de Reportagem da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP-Miami), em 1997, categoria Direitos Humanos, com a série de reportagens investigativas ‘Nota 10 em Violência’, denunciando o tráfico de drogas nas escolas do Rio. A reportagem foi considerada a melhor contribuição da Imprensa nas Américas no combate ao narcotráfico. Foi repórter e roteirista do DOCUMENTO ESPECIAL, da TV Bandeirantes. Em 1999 recebeu Moção da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro pela relevante contribuição à sociedade como poeta e jornalista. Actualmente é professor de Jornalismo, Supervisor de Operações do Núcleo Prático de Comunicação (NUCOM) e Coordenador de Mídia Impressa do curso de Jornalismo da Universidade Estácio de Sá, campus Nova Friburgo. É Diretor-Cultural da Sociedade Carnavalesca Embaixadores da Folia da Cidade Maravilhosa. Idealizador do PoÊterÊ e idealizador e organizador do PoÊtisÁ, festivais de poesia de Teresópolis e Nova Friburgo, respectivamente. É Delegado da APPERJ em Nova Friburgo.
No enredo do poema:
‘O poema que morreu’, tem 17 anos e já recebeu diversos prêmios. Foi escrito quando o autor cursava o primeiro período da faculdade de Jornalismo. Usa a linguagem da reportagem policial para narrar uma história de decepção amorosa. O que a princípio parece um crime surrealista – a morte do poema – na verdade é o fim de uma paixão, escrita em forma de poesia por um jovem poeta. A cena é construída a partir da possibilidade de um suicídio ou um assassinato e aos poucos são introduzidos os diversos personagens, tais como o delegado, o legista, os repórteres, pessoas comuns e anônimas que aparecem como curiosos e até mesmo o ponto de interrogação, que fica passeando pelo local. Recentemente foi o terceiro colocado no 1º Concurso Nacional de Poesia para Jornalistas, promovido pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro, com patrocínio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) com apoio da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e da Academia Brasileira de Letras (ABL). O poema foi o único classificado do Rio de Janeiro no concurso, que reuniu mais de 200 trabalhos. A obra abre o livro de poesia 'Pedra, Poesia, Pedregulho', de Ricardo França, que deverá ser lançado durante o 2º Poêtisá, em novembro. Brevemente o poema será transformado em um curta-metragem. Depois de ter sido "velado" em uma urna funerária nas dependências do Sesc-Madureira, no dia 15 de maio de 2004, durante a realização do II Fest Poe, ele "ressuscitará" para virar curta-metragem. A produção está sendo feita pela produtora friburguense Urânia Criações, a mesma que realizou o 1º Poetisa – Festival de Poesia em Nova Friburgo, junto com o curso de Comunicação Social da Universidade Estácio de Sá, em novembro do ano passado. De acordo com Thiago Mello, responsável pelo roteiro, o curta fugirá da narrativa linear, enveredando por uma linha pós-moderna. “Pretendo explorar uma linguagem fragmentada, misturando os planos e os cortes dos diversos momentos do poema, introduzindo, por exemplo, o adolescente, que no texto encerra o poema, já no início do curta-metragem”, revela. A reconstrução do poema-reportagem para a linguagem cinematográfica, segundo Ricardo França, tem tudo para dar certo. “O poema nos remete a um enredo de imagens surreais, porém tem princípio, meio e fim. É poético, jornalístico mas pode ser também cinematográfico. O grande desafio será mesmo embaralhar esses conceitos numa visão pós-moderna, que é o que o Thiago pretende fazer. O resultado será muito interessante”, acredita França.

Sem comentários:

Enviar um comentário

A sua opinião conta e nós contamos com ela.

Arquivo de Notícias